Andando pela rua em um dia
chuvoso vi as pessoas se escondendo sob seus guarda-chuvas, sempre apressadas,
sem nunca olhar os outros nos olhos, sem erguer a cabeça nem um momento para
olhar o céu. Então eu ergui e vi o Sol entre as nuvens, tão belo e sereno.
Naquele momento pensei “Como podem as pessoas ignorar tal beleza? Pior, como
podem precisar de seres mitológicos para explicar tamanha beleza?”, então eu
fechei meu guarda chuva e encontrei a paz.
No inicio as gotas frias pareciam
um castigo, caindo grossas e fortes em minha cabeça, ensopando-me, cruéis
escorriam pelo meu rosto como as lagrimas mais vis. Porem, aos poucos, tal
chuva se mostrou gentil e acolhedora. Suas gotas eram ternas e protetoras. A
chuva me preencheu.
Andando pelas ruas molhadas, com a
chuva incessante sobre os ombros e Ramin Karimloo gritando em meus ouvidos
sobre um sonho que sonhou¹ eu
entendi. “Deus está na chuva”², em cada pedacinho dela há vida, há poder de
criar, em cada gota há algo lindo prestes a ser desenvolvido e nós, tolos
humanos, não damos a ela seu devido valor. Pelo contrario, a amaldiçoamos por
estragar um dia de praia, por nos privar do céu azul.
“Oh maldita chuva por que vens?”
“Venho para molhar os campos
secos e deles fazer brotarem arvores que vos alimente, venho para matar tua
cede, venho para encher os rios e oceanos em que navega, venho para lavar-te e
envolver-te. Venho para dar-te vida.”
Uns sentem a chuva, outros apenas se molham (Bob Dylan)
Glossário:
¹- Referência a música ‘I Dreamed a Dream’ do musical Les Miserables cantada pela personagem
Fantine, no texto interpretada pelo cantor Ramin Karimloo.
²- Frase dita no filme ‘V de Vingança’ pela personagem Valerie
deixada em carta para V e repassada para Evy.