terça-feira, 6 de março de 2012

Uma viagem ao inferno - Parte 10

"I'll promise you forever and my soul todayNo matter what until the bitter endWe're gonna be the last ones standing" (Papa Roach)



Desembainhei minha espada diante do ataque de Lilith e cruzamos laminas, o som do metal forçando o metal era tão aterrorizante quanto eu pensei que seria, mas vindo lá debaixo eu podia ouvir sons bem piores: Gritos de dor, o metal cortando a carne. A guerra que eles sempre quiseram.

Fui tirada de meus devaneios com um golpe de Lilith que passou muito perto de meu pescoço, mas por sorte pegou apenas minha bochecha, afastei-me e encarei-a tocando a ferida.

-Deveria concentrar-se nesta luta minha querida.

Não respondi, pois não muito longe de onde estávamos uma cena se desenrolava. Miguel estava cruzando espadas com Loki, um erro do demônio querer sozinho enfrentar o líder dos anjos. Por mais treinado e inteligente que Loki fosse, ele nunca seria capaz de derrotar alguém como o guerreiro de Deus. Miguel o subjugou e estava pronto para dar o golpe final quando Alexiel acertou-o por trás, o anjo caiu alguns metros, gravemente ferido e virou o rosto para sua amada.

-Por que? –Foi a única coisa que ele conseguiu balbuciar.
-Porque ele pode me amar de uma forma que você nunca entenderá. E eu sinto o mesmo por ele. –Ela respondeu e partiu como um raio para ele, a espada em punho.

Eu não tinha unido-me aos anjos para que Miguel se deixasse matar por ela e pusesse tudo a perder. Então coloquei-me em sua trajetória e detive o ataque pouco antes dela acertá-lo. Alexiel olhou-me surpresa.

-Levante-se Miguel. Não vim até aqui para vê-lo morrer. –Disse ríspida obrigando-a a afastar-se com um golpe.

Ele ergueu-se incerto, o sangue manchando suas azas brancas, a espada firme em sua mão. Ele olhou-a em fúria e atacou sem dizer palavra, estava pronta para voltar para Lilith, mas quando virei-me naquela direção foi Marduk quem avistei. O demônio de olhos vermelhos estava parado no céu, a sua volta o perfeito caos, mas eu já não podia ouvir nada alem das batidas de meu coração, era Marih tomando o controle. Por isso eu precisava matá-lo rápido. Respirei fundo e fui para ele, minha espada erguida na altura de seu pescoço.

“NÃO!” O grito dela parecia ecoar para alem de minha cabeça.

Mesmo com a cabeça baixa percebi que ele não tinha movido sequer um músculo mesmo tendo percebido meu ataque. Minha espada erguida estava a menos de um centímetro de seu pescoço exposto, mas suas mãos continuavam paradas ao lado do corpo. Ergui meu rosto e deparei-me com seus olhos azuis encarando-me. Minhas defesas caíram, a alma de Marih chorava.

-Você não vai me matar. –Ele disse simplesmente. Não havia cinismo ou autoridade em sua voz. Era apenas como se ele constata-se algo obvio.
-Não sou quem você pensa que sou. –Falei entre dentes sem demover minha espada de sua jugular.

Ele tocou a lamina afiada com a ponta dos dedos e afastou-a lentamente, eu não conseguia impedi-lo. E estava começando a me perguntar se queria realmente pará-lo. Seja o que for que ele esteja fazendo...

Ele tocou o corte em minha bochecha e mais uma vez era como se tudo a nossa volta estivesse em câmera lenta, silencioso. Eu não podia enxergar nada alem de seus olhos azuis, tão demoníacos por seus truques, mas tão angelicais em seu brilho. Humano era o que ele se parecia. Então seus lábios de seda tocaram os meus. Não sei direito o que houve em seguida, eu me sentia flutuando, não havia peso algum, não havia nada. Talvez eu não fosse mais eu realmente. Talvez eu não quisesse ser.

Deixei que minha alma adormecesse enquanto Marih soltava a espada para tocar nos cabelos vermelhos daquele demônio. A última imagem que vi antes de deixar minha alma perder-se na tão sonhada paz foi o rosto doce de Lúcifer. Não vi o demônio de sorriso sínico que caminhava como um Lord pelos corredores do inferno, mas sim o anjo que me protegia e ensinava no paraíso, vi seu sorriso mais lindo e pela última vez naquela eternidade senti felicidade.

Fim 

segunda-feira, 5 de março de 2012

Uma viagem ao inferno - Parte 9

Nunca pensei que estaria nesse lugar. Sempre tentei me manter afastada da eterna guerra entre anjos e demônios, mas as coisas tornaram-se muito complicadas para me manter distante. Agora a batalha seria disputada através da força bruta e eu teria de lutar em um dos lados. Apressei-me em calar a voz humana gritando em minha mente e caminhando entre as nuvens aproximei-me do grande portão dourado que selava o Éden.

-Quem é você e como chegou aqui? –Gritou o anjo de cabelos castanhos que guardava o portão. Sorri.
-Meu nome é Eva. Preciso falar com Miguel.
-Tudo bem, Ristiel. Abra o portão. –Gabriel apareceu do outro lado com seus cabelos loiros e olhos dourados, eu me lembrava dele no julgamento de minha alma humana. Impassível como todos os anjos. Os portões se abriram e caminhei até ele.
-Olá, Gabriel.
-Finalmente decidiu tomar o controle, Eva? –Apenas sorri e deixei que ele me guiasse pelos corredores do enorme castelo dos anjos.

Caminhamos em silencio e eu podia ver o jardim do lado de fora, pequenas lembranças de antes do tempo escrito brilhavam em minha mente, mas eu as reprimia. Não era hora para nostalgia. Enfim chegamos a uma sala mais afastada. Gabriel deu leves batidas na porta e assim que ouviu a confirmação abriu dando-me espaço.

Miguel estava sentado em uma poltrona escura e no braço da mesma estava a anja que pouco antes encontrava-se com Loki, Alexiel me olhou e um tanto temerosa jogou os cabelos longos e negros pra trás do ombro.

- Então nos vemos de novo, Eva. –Miguel disse levantando-se.
- Infelizmente não posso dizer que seja prazeroso. –Sorri, ele riu com a arrogância estampada na face.
- O que veio fazer aqui?
- Não faça perguntas das quais já sabe a resposta. Parece que vocês finalmente tornaram inevitável meu envolvimento nesta luta.
- Então sua presença quer dizer que lutará ao nosso lado?
- Engraçado. Você parecia mais inteligente no principio. –Sua expressão endureceu.
- Alexiel vai mostrar-lhe um dos quartos vazios. Mando alguém chamá-la mais tarde para decidirmos quando agir. –Virei-me e segui Alexiel.

-Obrigada por não ter dito nada a eles.
-Não vi necessidade de dizer. Entretanto, você deveria escolher um lado antes que seja tarde demais. Falo por experiência.
-Já escolhi meu lado há muito tempo. –Disse ela ao pararmos em frente a uma porta, então depois de uma leve reverencia deixou-me sozinha.

A voz de Marih gritava incessantemente em minha cabeça, exigindo respostas, exigindo o controle. Pobre garota, deve ser um fardo ter de apenas assistir enquanto eu tomo as decisões, prometo que depois da guerra acabada desaparecerei sem deixar rastros.

Suspirei encarando-me no espelho. A pele alva e delicada, os olhos verdes e os cachos loiros não combinavam em nada comigo, mas pareciam encaixar-se perfeitamente neste castelo branco dos anjos. Por que então ela lutava para voltar ao inferno?

“Essas criaturas querem apenas usá-la, Marih. Elas não conhecem os sentimentos que você pensa terem.”
“Não! Você está enganada. Eles podem sentir tanto quanto nós. “Eles lutaram por você, e por mim também.”
“Não sabe o que diz. Lutaram simplesmente porque queriam poder. É sempre pelo poder.”
“Não...”

Com a última palavra Marih se silenciou, mas a imagem do demônio de cabelos vermelhos tomou minha mente, desestabilizando-me por um momento. Então percebi que chorava.

///////

No dia seguinte as trombetas tocaram anunciando a batalha eminente, vesti minha armadura dourada e fui para o lado de Miguel. Depois de tanto tempo eu finalmente usaria meus poderes adormecidos por décadas.

Entre as nuvens assistimos enquanto os demônios pairavam sobre a terra vindos como uma nevoa espessa até nós. Eles pararam e em uma batida decoração foi como se tudo explodisse anjos caindo sobre demônios e demônios elevando-se até as nuvens com suas asas negras e contorcidas. Um espetáculo bizarro e cruel. Eu procurei por Lúcifer, mas não obtive sucesso. Lilith logo apareceu atacando-me pelas costas.

-Já havia esquecido o quanto era traiçoeira, Lilith. –Disse virando-me depois de esquivar de seu ataque.
-Então devo lembrá-la. –Ela sorriu sínica e empunhando sua espada veio em minha direção.

"Nossas escolhas definem muito mais do que apenas quem somos,
Elas definem como será o nosso futuro. E é isso que as torna tão perigosas."

sábado, 3 de março de 2012

Stronger

"Você pode pegar tudo o que eu tenho
Você pode quebrar tudo o que eu sou
Vá em frente e tente me derrubar
Eu vou me levantar do chão
Como um arranha-céu" [Demi Lovato]

As vezes a vida toma um rumo que não desejamos, isso porque não depende apenas de nós, mas das escolhas feitas por aqueles que nos cercam. Isso é algo difícil de se aceitar, mas é apenas assim.

Vão acontecer coisas que não podemos entender, pois nunca se pode entender completamente o que se passa na cabeça de uma pessoa. Nós vamos nos deparar com obstáculos, vamos nos magoar e algumas vezes podemos até cair, mas não devemos esquecer que podemos nos levantar e continuar de cabeça erguida, embora pareça impossível no momento devemos manter o foco.

A dor é forte, mas passageira, temos apenas que pensar e ter paciência. Estar próximo dos amigos verdadeiros, ocupar o cérebro, não pensar muito em coisas que não podemos mudar, afinal, não se pode voltar para escolher de novo, “o que está feito está feito”, mas podemos aprender com esse engano, para não o repetirmos no futuro.

Pessoas vem e vão, tudo é passageiro, nada é imutável ou atemporal. As coisas boas podem tornar-se ruins, os medos podem tornar-se fortalezas, o veneno torna-se a cura. Tudo depende de como encaramos a vida e os desafios.

Não há problema que não possa ser resolvido, tristeza que não vá passar, nem alegria que dure para sempre. Não a certeza no amanhã, nem conforto no ontem, mas há harmonia no presente, basta saber encontrá-la. Basta procurar, abra os olhos e veja de uma forma diferente. Deixe que seus medos o fortaleçam, aprenda com seus erros e guarde a dor de uma lagrima, assim você poderá valorizar um sorriso.

"O que não te mata, fortalece, te faz sentir melhor
O que não te mata te torna uma lutadora, deixa os passos mais leves"
 [Kelly Clarkson]