terça-feira, 7 de setembro de 2010

A casa da colina

13 de novembro de 1985 – Sexta Feira

Um grupo de adolescentes risonhos estava saindo de uma festa na Rua 11, quando um deles tem a brilhante idéia de passar na casa da colina. A casa da colina era um lugar proibido, todos diziam que uma bruxa tinha nascido e morrido naquela casa e que o espírito dela e de todas as suas vitimas permanecia ali.

-Ai Josh! Essa é uma idéia horrível! –Exclamei.

-Eu acho uma ótima idéia. –Disse minha irmã incrivelmente parecida com a Barbie (loira, linda e sem cérebro) se dependurando no braço de Josh, é claro que ela ia achar ótima qualquer idéia estúpida que ele tivesse. Droga, a garota era louca por ele!

-Está na hora das crianças irem dormir, Paty. Agora começa a festa dos mais velhos. –Disse Felipe colocando seus braços a meu redor e bebendo mais um gole de seu drink sabor menta.

-Sem chance de eu ir pra casa agora! Lola se você não me encobrir eu conto pra mamãe que...

-Cala a boca, Paty! –Gritamos todos, fazendo-a emburrar.

-Cara se quiser andar com agente tem que parar de agir como criança! –Disse seria. Paty é o tipo de irmã-pessadelo que eu não desejaria nem pros meus piores inimigos. Ela é três anos mais nova que eu com seus 15 anos e peitos super desenvolvidos, mas às vezes parece que ela tem cinco, a menina chora pros meus pais toda vez que eu digo que não vou emprestar meus fones de ouvido e ameaça contar pra eles que eu ando saindo com Felipe (o cara super fofo que eles totalmente não aprovam) sempre que não a levo comigo pras festas.

-Eu não sou criança! Josh, você acha que eu pareço criança? –Ela piscou seus cílios fartos com os olhinhos azuis brilhando pra ele. Se Josh fosse um cara normal de 20 anos eu diria que não tem como ele ficar com ela, mas ele é tipo um idiota com carteira de motorista.

-Eu acho você gata. Cara, relaxem um pouco e vamos logo pra casa da colina. O que acham? Vamos! É quase meia noite da sexta feira 13! Isso não excita vocês?! –Gritou Josh animado. Rolei os olhos.

-Estou fora. –Disse.

-Eu estou totalmente dentro! –Disse Paty levantando a mão.

-Tanto faz. –Essa era Vick, totalmente alheia a tudo e todos. Como essa garota consegue gabaritar as provas e dormir a aula inteira?! Todos olhamos pro Felipe, era sempre ele que decidia no final. Ele tinha esses lindos e confiáveis olhos verdes de gato que pareciam brilhar no escuro e esse queixo forte, ok, o cara era todo músculos, é isso que acontece quando se treina cinco dias por semana durante 2 horas e tem um campeonato de futebol a cada fim de semana. Enfim, Felipe tinha jeito de líder, ele sempre conseguia convencer qualquer um a fazer qualquer coisa. Sim, experiência própria.

-Vamos, L. Vai ser legal. Eu juro que se você não quiser continuar eu volto com você e se for preciso arrasto Paty de lá pra você não se preocupar. Por favor. –Certo, falando no senhor irresistível.

-Ok, mas se eu não gostar agente cai fora.

-É isso ai! –Gritou Josh pondo o braço nos ombros de Felipe e os dois cambalearam alguns passos deixando nós três pra trás.

A casa da colina não ficava muito longe. Só tivemos que descer alguns metros e depois de um total breu pela estrada de barro vimos a casa no topo da colina. Ela parecia imponente mesmo sendo pequena, era construída em madeira rústica antiga, tinha algumas janelas quebradas, um jardim totalmente desmatado cobria o solo a sua frente, uma trilha de pedrinhas brilhantes levava até a varanda da frente e perto desta havia uma arvore grande, velha contorcida de onde pendia um balanço de pneu que balançava ao vento. Se a historia não lhe assustasse o visual provavelmente o assustaria. Era uma noite escura e sem estrelas, mas a lua cheia e amarela brilhava firme no céu sobre a antiga casa.

Enquanto subíamos a colina Josh fez questão de contar a historia na sua melhor voz de terror, rouca e baixa, fazendo longas pausas de suspense.

-Em uma noite como a de hoje há 100 anos atrás a jovem Melissa Gregory dava luz a sua primeira filha nesta casa...

“Melissa era uma jovem de 15 anos muito linda e estudiosa, todos a chamavam de menina prodígio. Quando ela apareceu grávida seu pai quase teve um ataque cardíaco. O pai da criança fugiu da cidade para não assumir o filho e Melissa parou de freqüentar a escola. Trancou-se em seu quarto e não recebia ninguém, diz-se que com o passar dos meses seu pai a ouvia sussurrar preces estranhas... Ele chamou padres, benzedeiras, magos, alquimistas, médicos e todo o tipo de gente, mas ninguém conseguia dizer o que a garota tinha, o que ela sussurrava ou a fazia abrir a porta.

“Enfim chegou o dia do nascimento. Melissa gritava como louca e continuava a fazer suas preces estranhas, mas não abria a porta. Depois de um grito agudo o velho pai ouviu o choro da criança, ele chamou por Melissa varias vezes, mas ela não respondia. Ele conseguiu arrumar forças em algum lugar de seu ser e arrombou a porta. A visão que ele teve foi terrível: Sua filha estava com os olhos vidrados, a barriga totalmente arrebentada e o bebê estava nas entranhas da mãe deliciando-se com o sangue espalhado por todo o quarto e puxando as tripas da mulher morta. Depois desta cena o homem não viu mais nada. Foi pego por um ataque cardíaco fulminante.

“A criança foi levada para uma instituição de caridade, mas todos pareciam ter medo dela. Com quatro anos ela não falava nada, apenas ficava sussurrando coisas estranhas pelos cantos. Até que quando a garota tinha dez anos coisas estranhas começaram a acontecer, então ela foi abandonada na porta da antiga casa de sua família e lá ela viveu e morreu sozinha. Pelo menos é isso que acreditasse já que um corpo nunca foi encontrado”

-E fim. Chegamos. –Disse Josh parecendo feliz. Olhei em volta e segurei com força a mão de Lipe quando ele deu um paço em direção a casa.

-Vamos, L. Não tem nada a temer. –Disse ele carinhosamente.

-Não sei, Lipe. Não tenho um bom pressentimento. –Disse segurando sua mão com mais força. Ele sorriu e voltou, ficando bem a minha frente. Acariciou docemente meu cabelo preto(herança de papai) e me beijou. Eu juro que o beijo dele me fazia esquecer todos os problemas, com seu beijo eu podia ir ao espaço e voltar, ele era diferente de qualquer garoto com quem eu tenha ficado e no auge de meus 18 anos eu já tinha ficado com muitos tipos de caras.

-Apenas confie em mim, Lola. –Eu odeio o meu nome, mas quando ele é pronunciado por aquela voz doce e sensual enquanto os olhos de esmeralda dele estão tão próximos dos meus diamantes... Meu nome parece lindo e sexy.

-Certo. –Eu disse sem querer que ele se afastasse.

-Se vocês vão ficar ai a noite toda é melhor irmos embora porque essa cena está me dando náuseas. –Disse Paty com as mãos na cintura. Felipe deu um pequeno sorriso e se afastou ainda segurando minha mão. Todos subimos as escadas e paramos ao lado de Paty em frente à porta.

-Acho que não vai aparecer um mordomo pra abrir. –Disse Josh depois de tentar tocar a campainha defeituosa. Paty estava olhando para dentro pela janela suja.

-Cara está um breu lá dentro. Alguém trouxe lanternas? –Perguntou ela juntando-se a nós.

-Não liga, Paty. Se você ficar com medo é só me abraçar. –Disse Josh aproximando-se da minha irmã pirralha.

-Ah Josh! –Gritou ela atirando-se nele. Ótimo.

-Vamos entrar ou não? –Perguntou Vick totalmente desinteressada, então Felipe mais uma vez fez o trabalho. Depois que ele arrombou a porta entramos devagar. A casa estava realmente um breu, precisei de uns minutos para focar a visão. Consegui ver uma pequena mesa de centro, alguns sofás, um grande abajur caído, uma janela quebrada, a escada encostada na parede, uma porta e um corredor.

-Onde vamos primeiro? –Disse Josh.

-Eu quero ver o quarto de que a historia fala. –Disse Paty, mas ignorando-a Vick andou até uma porta embaixo da escada e girou a maçaneta, a porta se abriu mostrando a total escuridão.

-Ei, Vick! Onde você vai? –Disse Josh. Vick o ignorou e entrou. Droga! Felipe começou a ir na direção dela, mas eu continuei parada.

-Vamos, não podemos deixá-la sozinha. –Eu tinha que concordar, mas realmente não estava com um bom pressentimento. Mordi o lábio e segui-o de mãos dadas, Josh e Paty estavam atrás de nós. Lá embaixo Vick tinha acendido um lampião e estava parada no meio de um pentagrama. As paredes tinham símbolos estranhos desenhados e havia uma cama com o colchão manchado no canto, alguns livros estavam jogados no chão.


-Vick? –Chamei-a.

-Eu já estive aqui. –Disse ela bem baixinho.

-Como? –Perguntei.

-Já estive aqui! Eu lembro. Foi ali. Foi bem ali! Ele estava lá! Estava sentado lá! E a garotinha... Ela era tão pequena e tão linda... –Ela apontava para cama e falava como se estivesse se lembrando.

-Ok, Vick. Está assustando as garotas. Já pode parar agora. –Disse Josh quando Paty apertou o braço dele tentando fazê-lo recuar.

-Não estou brincando! –Gritou ela virando-se pra nós. –Ela parecia... Parecia você. –Ela apontou pra Paty que cravou as unhas na pele de Josh. –Tão linda... Tão pequena e inocente... Ela era só uma garotinha sabe... Mas o demônio. Ele a quis. Ele a quis da primeira vez que a viu. Ele teve um filho com ela. A criança. A criança ficou louca, mas não quis dar ao demônio outro filho. Você! Você vai ser a filha do demônio! Você vai sim! –Gritou ela pra Paty que deu um grito histérico apertando com força Josh, antes de correr pelas escadas.

-Que merda você tá fazendo, Vick?! –Gritou ele, mas ele não tinha visto os olhos dela. Eu vi e percebi que Felipe também viu e ele segurou minha mão com força para que eu não gritasse e me puxou pra ele.

-Ela não é a Vick. –Ele sussurrou em meu ouvido. –Você vai ter que confiar em mim. Tem que fazer o que eu mandar. Pode fazer isso? –Eu fiz positivo com a cabeça enquanto ele segurava meus braços. Eu não consegui desviar o olhar dos olhos de Vick. Os olhos dela eram castanhos desde que nos conhecemos no primário, seu cabelo preto ganhara mechas roxas durante um tempo e estava vermelho recentemente, mas ela não era tão estranha quando se conhecia melhor. Mas agora... Não, aquela coisa com olhos prateados não era Vick.

-Ela pertence ao demônio! –Gritou a coisa que se parecia com a Vick. Minha irmã gritou com mais força enquanto era puxado por uma força invisível de volta pra sala. Gritei.

O corpo de minha irmã era atirado de um lado pro outro enquanto ela gritava, seus cabelos loiros açoitavam sua face de anjo. Felipe me puxou pra baixo quando ela veio com força total sobre nós e bateu na parede. Um estranho e forte vento soprava meus cabelos pro alto, soprava tudo, as paginas dos livros e os cabelos de Vick também, Josh estava próximo de nós em choque. O vento continuou quando Paty parou de gritar e ficou elevada na frente de Vick que agora dizia palavras sussurradas em uma língua estranha.

-O que ela está fazendo com a minha irmã?! –Eu gritei. –Tenho que fazê-la parar!

-Não, Lola! Não pode! –Felipe me segurou com força perto dele.

-Mas ela é minha irmã! Eu tenho... –Não consegui terminar.

Não deu tempo de processar tudo o que aconteceu. O rosto pálido e sem vida de Paty ainda estava na minha cabeça quando terminamos de descer a colina rapidamente. Felipe me puxava pelo pulso e meio que carregava Josh. Foi muito rápido. Eu vi sangue espirrando, ouvi o barulho de algo se quebrando foi quando olhei pra frente e lá no chão estava Paty, imóvel e sem vida. Seus olhos azuis olhavam diretamente pra mim, da sua boca aberta saia um filete de sangue e a próxima coisa que lembro é estar correndo pra longe com Felipe. Quando chegamos à curva da estrada de barro a casa atrás de nós explodiu e caímos no chão. Eu olhei pra trás. Minha melhor amiga... E minha irmã... Soltei o grito que estava preso em meu peito para a fria noite de novembro, as lagrimas rolaram como acido.

"Se minhas lagrimas pudessem trazer de volta sua vida choraria uma cachoeira."

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