segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Mudança de hábito [Parte 1]

O sorriso iluminava o rosto dele quando desci as escadas em meu vestido cor de rosa, era a primeira vez que eu vestia algo rosa por vontade própria, isso tudo porque ele me fazia sentir diferente, ele tinha o poder de me deixar maluca, ele mudava tudo em mim. Com ele eu me sentia quente e amparada, sentia que meu melhor sem ele não fazia sentido e que sem o sorriso dele o mundo era infeliz.



Eu terminei de descer os degraus sorrindo e ele me estendeu a mão, um perfeito cavalheiro.



-Você está linda. –Sussurrou em meu ouvido enquanto minha mãe tirava fotos, meu pai fazia mil recomendações e minha irmã perguntava o por quê dela não poder ir, depois de todo esse caos finalmente entrei no carro dele, era um Honda Civic do último modelo com bancos de couro, antes de partir ele olhou pra mim e sorriu, sorri de volta e tomada por um impulso beijei-o.



-Você me faz sentir bem. –Eu disse ainda de olhos fechados.

-Que bom, pois você é especial pra mim e também me faz sentir muito bem. –Disse ele sorrindo e dando partida no carro.



Ao entrar no salão fui invadida por aquela musica lenta, todos dançavam e mil vestidos róseos giravam na pista pra onde ele me guiou. Ficamos bem no centro, eu encostei minha cabeça em seu ombro e ouvindo sua respiração lenta me permiti lembrar de como tudo começou...



2 meses atrás



Eu saí para caçar um vampiro, de novo, essas missões estavam se tornando cada vez mais freqüentes e isso acabava com minha vida social. Minha mãe já havia sido chamada na escola para falar sobre meu rendimento que caia e meu sono em aula, que droga, eu nunca cochilei na aula. Nunca. Mas com essas missões na calada da noite era meio impossível não sentir sono as 7 da manha em aulas como trigonometria e química orgânica. Quem precisa saber o valor de um átomo no sistema solar?! Minha mentora dizia que tantos vampiros aparecendo assim não podia ser uma coisa boa, então eu deveria mostrar pra eles quem estava no comando. E eu realmente mostrava.



Vampiros são criaturas sombrias do submundo que temem o Sol, os mais novos acabam morrendo quando entram em contado com o astro, já os mais velhos e poderosos demoram mais para morrer embora a luz os incomode muito, a melhor forma de matá-los é decapitando, mas uma boa estaca bem firme no coração geralmente resolve o problema se o vampiro for fraco. Sempre que saio, independente se é em missão ou não, levo comigo uma adaga afiada, uma estaca e spray de pimenta. OK, o spray de pimenta não surte efeito quase nenhum nos vampiros, mas meu pai acha que eu deveria me proteger dos gangsteres de Nova York.



A Rua 26 está deserta, não há sinal de alma viva ou morta (no caso dos vampiros), peguei a pequena adaga presa cuidadosamente sob meu short curto por uma tira de couro, a estaca está na outra mão. Apertei mais minha jaqueta pra me proteger do frio e segui em frente olhando para os lados.



-Está me procurando, Buffy? –Odeio quando eles me chamam assim! Essa garotinha idiota das series de TV só se parece um pouco comigo, mas eu tenho mais estilo que ela!

-No fim a Buffy mata os vampiros, né?! E por falar nisso, meu nome é Sarah. –Disse já com a adaga cortando seu pescoço. Seu corpo frio caiu no chão e se despedaçou em pó. Missão cumprida antes da meia noite. Isso deve ser algum Recorde! Corri de volta pra casa e me joguei na cama sem nem esconder as armas.



Às 6 em ponto meu despertador de abobora tocou e eu levantei preguiçosamente indo pro chuveiro. Um banho longo e frio antes de vestir aquele uniforme horrível. Quem poderia se sentir bem vestindo uma saia de pregas azul marinho, blusa colegial branca e meias de linho fino brancas?! Ainda bem que podíamos usar o sapato que quiséssemos desde que fosse preto, calcei rapidamente minhas botas de couro, passei o lápis, o corretivo e o delineador, prendi minha adaga debaixo da saia, joguei a mochila nas costas e desci as escadas rapidamente, peguei uma torrada na cozinha e sai dizendo um tchau afobado enquanto corria pra pegar o ônibus a tempo.



Depois de 5 horas de aulas chatas e mais 30 minutos de detenção por dormir na aula de inglês fui para meu treino com a Hanna, minha mentora. Os treinos foram muito pesados, dessa vez eu mau conseguia acompanhar o ritmo dela então pedi uns minutos, ela revirou os olhos, mas deixou que eu me jogasse no chão pelo menos até eu voltar a sentir meus pés.



-Por que esse treino tão duro agora? Eu já te falei de decapitei o vampiro de ontem em menos de 5 minutos, né?!

-O que está pra vir é bem pior do que esses ratos que anda enfrentando, Sarah.

-Vindo?! O que você descobriu?

-O Conde Drácula chegará com sua comitiva nos próximos dias. –Eu devo ter entendido mau.

-Conde Drácula? Tipo aquele vampiro de sei lá quantos zilhões de anos sobre o qual Bram Stoker escreveu?! Esse Drácula?!

-Não querida, não é o mesmo vampiro. Esse já morreu a pelo menos 100 anos. Drácula é o sobrenome do clã mais poderoso dos vampiros e seu atual líder está vindo passar uma temporada em Nova York, ainda não descobri pra quê.

-E minha próxima missão será matá-lo?! –Disse já com os olhos brilhando.

-Nem pense nisso! Esse vampiro é muito perigoso! Ele pode te prender apenas com o olhar. Você não teria chance com um desses. Nem as caça vampiros mais poderosas ousam enfrentar um Drácula sem um esquadrão treinado e um ótimo plano. Alem do que ele deve ser seguido de perto por vários seguranças. –Droga. Continuamos o treino até pouco antes do anoitecer e eu fui embora, mas antes de ir pra casa parei em uma lanchonete e fiz meu dever de casa com suco e batatas fritas.



Quando terminei já estava bastante escuro e o vento não perdoava meus cachos loiros por nenhum momento. Segui por ruas movimentadas até chegar à Avenida leste. Àquela hora não tinha mais ninguém ali e eu peguei uma derivação ainda mais deserta pra casa quando senti uma movimentação diferente. Eu sempre sentia isso quando tinham vampiros por perto. Todos os meus instintos gritavam perigo quando escondi minha mochila atrás de uma lixeira e subi no prédio alto para olhar a rua adiante. Lá embaixo 6 homens de capas pretas pareciam escoltar um menor, der repente todos pararam e o homenzinho no centro olhou diretamente pra mim. Seus olhos eram do azul mais puro que eu já tinha visto e tinha um brilho totalmente incomum, seu rosto era bem desenhado, com linhas fortes e ao mesmo tempo joviais, sua boca rósea era convidativa e quando ele sorriu deixou a mostra duas pequenas presas que não me assustaram nem um pouco, Seu cabelo era preto e liso, ele não aparentava mais de 17 anos, mas quando um dos vampiros mais velhos ameaçou atacar, com um simples toque ele o fez voltar à posição e eles sumiram na noite. Aquele foi meu primeiro encontro com conde Drácula.



Depois daquele encontro não parei de pensar nele e em seus olhos azuis, em seu sorriso doce que as presas afiadas que o tornavam perigoso, sua mão forte tocando o ombro daquele vampiro. Conde Drácula era um mistério. Eu gostaria de vê-lo outra vez. Foi pensando nisso que dormi. Tive sonhos estranhos naquela noite... Algo como voar pela adormecida Nova York para atender um chamado, mas eu não sabia quem me chamava. Quando cheguei a sua janela no edifício Palace o despertador tocou.



Fui para a escola desanimada e me joguei no mesmo lugar de sempre, perto da janela tentando manter meus olhos abertos quando o professor Willians entrou na sala acompanhado de alguém.



-Turma, esse é Drake Verne e ele vai passar o resto do ano letivo conosco. Pode sentar-se ali Drake. –Disse o professor apontando a cadeira ao meu lado. Eu mal pude acreditar quando encarei outra vez aqueles olhos azuis. Era ele!

-Ola. –Disse Drácula ao sentar-se.

-O que está fazendo aqui? –Perguntei pra ele entre dentes. Ele sorriu.

-Como?

-Não se faça de sonso! –Falei ainda sussurrando. Ele apenas sorriu e não me deu uma resposta.

Depois que o sinal bateu nem lhe dei tempo de se levantar.

-Se sair dessa cadeira juro que enfio uma estaca no seu coração agora mesmo. –Disse pra ele que permaneceu sentado. Depois que todos saíram da sala apoiei minhas mãos sobre a mesa dele e o olhei nos olhos.

-Então. O que você queria comigo? –Perguntou ele na maior calma.

-O que eu quero? Quer dizer alem de te matar por motivos óbvios? Quero que me explique o que um conde de mais de 1000 anos está fazendo no último ano do ensino médio quando faltam alguns meses pro ano letivo terminar.

-Erro numero 1, não tenho mais de 1000 anos, tenho 570. Erro numero 2, o único motivo que teria para querer me matar é essa discriminação por vampiros já que nunca lhe fiz nada de mau e 3º eu não tenho que lhe explicar nada. Agora se me deixa ir. –Ele se levantou, mas eu não tinha nem começado, então segurei-o pelo braço, ele torceu meu pulso me prendendo á parede.

-Sua mentora não te ensinou a não desafiar os mais fortes? –Disse ele aumentando a pressão. Sorri e chutei-o tentando acertá-lo com um soco logo após, mas ele sumiu e quando percebi, ele me segurava pelos ombros na parede, suas presas a mostra e seu olhar prendendo o meu. Droga!



Em segundos senti minha mente ser invadida por aquele olhar doce. E tudo pareceu mais... Colorido. E foi assim que eu me tornei a namorada de Conde Drácula.



Simples, rápido e indolor.

"O melhor vinho é aquele saboreado aos poucos e o pior veneno é o mais doce."

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