sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Um motivo pra recomeçar

Acordei de ressaca, de novo, já eram quase quatro horas quando tomei coragem pra levantar, aquela dor de cabeça asquerosa já fazia parte da rotina... Depois de um banho gelado e com uma bolsa de gelo na cabeça fui preparar o café forte com aquela sensação de Deja vu.

Meus dias eram assim. Eu ficava vagando pela casa como um fantasma e durante a noite ia pra bares ou danceterias, o que estivesse dentro das minhas possibilidades financeiras, mas assim que chegava era sempre a mesma coisa... Do pagode ao tecno, todas as festas eram regadas a red Bull, ice, vodka e muitas pedrinhas brancas que queimávamos no jardim, ou então alucinógenos que alguém arranjava.

Não tinha sido sempre assim... Havia uma época em que eu era feliz sem precisar das drogas e da bebida, mas já fazia quase dois anos, meu irmão morrera em setembro de 2008, ele costumava cuidar de mim, mas agora... Sequei uma lagrima idiota, elas não serviam pra nada, não iriam trazê-lo de volta. Bebi meu café e fiquei jogada no sofá passando os canais pelo resto da tarde.

Quando eram quase 10 horas eu já estava me arrumando e meu celular apitava com as mensagens. Selecionei o melhor convite e parti pra boate mais procurada da cidade. Só a Elite entrava na VIP'S e eu estava com um convite oficial na tela do meu Black Berry, peguei minha bolsa preta que combinava com o salto e sai ajeitando o vestido.

Encontrei umas amigas dentro do club e começamos a beber e conversar. Foi quando eu o vi, do outro lado da pista de dança. Ele estava parado com uma taça de Martini na mão, seu cabelo preto sempre muito bem penteado e a roupa bem engomada. Ele parecia um anjo. Exatamente como da última vez... Parei de pensar e virei outra dose da vodka pura sem olhá-lo, depois sai. Com certeza tinha alguém queimando algo lá atrás ou talvez eu conseguisse entrar em uma das rodinhas privadas de narguile. Encontrei um conhecido com maconha e logo arranjei um cigarro. Quando olhei pra trás lá estava ele de novo, me encarando. Virei-me de novo e comecei a misturar as drogas. Entrei finalmente em uma das rodinhas de narguile...

Tudo ficou tão divertido de repente, eu tinha certeza que ficaria... Foi ai que as coisas ficaram estranhas. Todos se mexiam em câmera lenta, seus rostos estavam desfocados, pareciam fantasmas... Ri alto. Eu queria dançar. Dava pra ouvir a musica que pulsava lá dentro então levantei e me movi no ritmo da musica, fiquei tonta. Fui para um canto e me senti segurada por braços fortes. Comecei a vomitar. Pus tudo pra fora enquanto ele segurava meus cabelos, quando eu acabei ele me ajudou a levantar e transpassou meu braço por seu pescoço. Pude ver o rosto dele.

-Marco... Não preciso da sua ajuda. Eu to legal. -Disse tentando me afastar, mas ele não cedeu. Ele esteve me vigiando a noite toda com aquela cara triste. Ele costumava ser meu namorado, mas eu não o procurava desde a morte do meu irmão. As coisas estavam diferentes...

-Você não está legal e eu vou sim ajudar você, Sarah. -Disse ele me guiando. Me deixei ser carregada, eu estava realmente me sentindo muito mal. As luzes da estrada eram engraçadas e estranhas... Elas me davam sono...

Quando abri meus olhos eu estava voando. Não. Eu estava sendo carregada por Marco para meu apartamento. Ele abriu a porta e me levou pro chuveiro, deixei que ele tirasse minhas roupas. Não tinha nada ali que ele já não tivesse visto, exceto as marcas vermelhas em meus pulsos, essas eu tinha feito recentemente. Ri quando ele olhou pras marcas e seus olhos se esbulharam, mas ele logo desfez a expressão e me pôs dentro da água gelada. Protestei, mas ele continuou a me banhar e acabou todo molhado também. Depois do banho tomado ele me secou, vestiu e pôs na cama. Depois de uns minutos voltou com café quente e forte. Bebi.

Ficamos em silencio por um tempo. Ele estava sentado a meu lado, mas não me olhava. Eu já me sentia mais lúcida e muito envergonhada por nosso reencontro ter sido dessa forma, mas eu tinha me tornado essa pessoa, não poderia ser diferente. Se fosse não seria eu, mesmo assim parecia incorreto.

-Desculpe. -Eu disse baixinho. Ele negou com a cabeça.

-Não sei o que está tentando fazer. Eu não sei nem o que eu estou tentando fazer. Acho melhor eu ir pra minha casa. -Disse ele levantando-se, aquilo me assustou de verdade. Eu estava apavorada, eu não queria ficar sozinha. Levantei-me rápido e corri até ele segurando-o pela manga da camisa.

-Não vá. Por favor, não me deixe. -Disse chorando enquanto mirava o chão. Eu era um lixo. Não tinha nem coragem de olhá-lo nos olhos, mas ele parou e virou-se, com seu dedo levantou meu rosto para que eu o olhasse. -Por favor. -Pedi como uma criança. Abracei-o e ele me pegou nos braços e me levou de volta pra cama.

-Durma um pouco, Sarah. -Ele disse cobrindo-me.

-Não. Se eu dormir você vai embora. -Eu disse.

-Eu prometo que vou ficar.

-Então deite aqui comigo. Estou com medo, Marco. Por favor. -Pedi e ele obedeceu. Me deitei em seu peito e perdi-me em seu abraço me entregando aos sonhos, exatamente como fazia antes. Na manhã seguinte ele estava preparando ovos na minha cozinha. Tudo estava lindo com ele cozinhando sem camisa. Parecia que as coisas estavam certas de novo.

Naquele dia ele não foi pra casa dele. Nós ficamos conversando sobre tudo, falamos do passado e do presente. Rimos e brincamos até que começou o assunto da minha vida atual, coisa de que eu não me orgulhava.

-Por que faz isso com você mesma? -Ele perguntou apontando meus pulsos machucados. Eu encarava o chão sem responder. -Seu irmão não gostaria de vê-la assim, Sarah. Ele não suportaria ver o que eu vi ontem.

-Mas ele não está aqui não é?! -Gritei. -Ele não vai voltar nunca! Eu nunca mais vou vê-lo! Quer saber por que eu me corto?! Quer saber por que gosto de ver o sangue escorrer pelos meus pulsos?! É por que se eu cortar fundo o suficiente eu posso vê-lo! Eu posso me encontrar com ele de novo! -Chorando corri para meu quarto onde me joguei na cama.

Ouvi quando ele entrou no quarto e sentou na beira da cama.

-Foi culpa minha. Se eu não tivesse feito ele sair no meio da madrugada pra me comprar bolinhos ele não teria sido atropelado. Ele... Ele estaria vivo! -Eu gritei abafando minha voz no travesseiro. Marco acariciou meu cabelo suavemente.

-Sinto muito pela morte de seu irmão, mas não foi culpa sua. Ele iria sair naquela noite e você sabe disso. O motorista que o atropelou avançou o sinal, foi culpa dele e de ninguém mais. Agora você deveria viver ao invés de se entregar desse jeito. Eu não gosto de vê-la tão perdida e ele também não gostaria. Sarah, você tem que viver pela memória do seu irmão. Tem que viver por você! -Nessa hora ele me puxou pelos ombros me fazendo encará-lo. -A vida é ruim, Sarah! Ela é muito ruim! Mas você não é mais uma criança, então enfrente a vida como sempre enfrentou a todas as pessoas e a todos os seus medos! Você precisa superar isso por vocês dois! -Ele disse e depois disso saiu pra me deixar pensar.

Eu realmente ouvi os conselhos de Marco. Me internei em uma clinica de reabilitação e ele costumava ir me visitar toda semana, mesmo que não pudéssemos nos ver eu sabia que ele sempre estava do outro lado da porta, quando eu sai ele estava lá de braços abertos pra mim. Meu tratamento terminou quando ele começou na quimioterapia. Um ano depois nosso filho nasceu, um lindo e saudável garotão que chamamos de Victor em homenagem a meu irmão e no ano seguinte Marco morreu e eu continuei. Por mim, por Marco e por Victor(s) eu continuei.
"Vou seguir meu caminho independente das incertezas e inseguranças, pois amanhã um novo dia nascerá."

2 comentários:

  1. Superar é sempre difícil, por isso que precisamos de alguem do nosso lado nessas horas tão difícies!
    Post perfeito Celi!! =D

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  2. *----------*
    [aaaaaaaaaa] ADOGO seus contos! *-*

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