quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Uma viagem ao inferno - Parte 8

Acordei no chão, onde havia adormecido, mas pelo menos havia decidido o que fazer. Então levantei-me e comecei a tentar refazer o caminho que percorri no meu primeiro dia naquele lugar. Depois de andar alguns minutos achei a grande porta que estava procurando, fiquei olhando-a sem decidir se abria ou batia, antes que decidisse ela foi aberta e Lilith saiu.

-Ele está esperando por você. –Disse dando espaço para que eu passasse. Mesmo já o tendo visto varias vezes e estado tão próximo dele por varias outras, eu não conseguia me acostumar com sua beleza sedutora, ele parecia ter algo que fazia esvair-se toda minha coragem, meus pensamentos, tudo. Eu não conseguiria explicar nem se tentasse, era como se todo o meu ser respondesse a um chamado dele. Pertencesse a ele.

-Não tenha medo, Eva. Venha até mim. –Ele disse com um sorriso e eu fui completamente extasiada. –O que deseja?
-E...Eu... –Engoli em seco e respirei continuando. –Que quero aprender a controlar meus poderes.
-Isso é ótimo. Lilith poderia ajudá-la. Ela conhece seus poderes melhor que qualquer um de meus demônios.
-Certo... –Falei relutante.
-Perfeito. Vou avisá-la que começarão ainda hoje. –Acenei com a cabeça e fui me dirigindo à saída, mas antes disso lembrei-me do que Marduk disse ontem e virei-me de volta ao rei do sob mundo.

-Você mandou Marduk... Ir até mim? –Falei relutante, ele sorriu de minhas reservas e levantando-se começou a aproximar-se de mim até estar tão próximo que podia sentir sua respiração bem acima de meu rosto.
-Pelo contraio. Eu disse a Marduk para ficar longe. –Ele levantou meu rosto fazendo nossos olhos se encontrarem. –Mas como ele poderia? Marduk é um demônio ambicioso, ele deseja tudo que é belo, tudo que é poderoso. Por isso ele desejou você, a criatura mais bela e poderosa deste mundo. Porém, sou um homem mesquinho. Não vou aceitar dividi-la com ninguém minha Eva. Marduk me foi muito útil mas se ousar tocá-la matarei-o sem sequer pensar. Mato-o agora se for o que desejas.

Eu estava hipnotizada pelo brilho de seus olhos cinzentos, o toque suave de suas mãos sobre mim, minha mão se ergueu sem que eu tomasse ciência e toquei seu rosto, ele fechou os olhos e me vi deslizando os dedos por seus cabelos sedosos e brilhantes, seus lábios entreabertos pareciam convidativos, mas eu não me atreveria. Então ele fez o que eu não me atrevia a fazer e selou nossos lábios em um beijo. Eu podia sentir a suave pressão de sua boca na minha, mas era como se eu estivesse muito distante, com meus olhos fechados eu via um jardim imenso. Seu gemido baixo de protesto foi a última coisa que ouvi.

O jardim parecia vivo a minha volta, as arvores, os pássaros as flores, tudo era tão familiar e ao mesmo tempo desconhecido, eu sentia o vento passar por meus cabelos e ouvia os pássaros cantarem, mas era como se não estivesse ali realmente.
-Eva! O que está fazendo aqui? –Virei-me ao ouvir seu chamado. Antes ele já era lindo, agora era impossível resistir a ele. Suas asas brancas fechadas ás costas tinham finas linhas douradas parecidas com ouro, seus cabelos negros e lisos brilhavam ao Sol enquanto eram penteados pelo vento, seu sorriso aberto era caloroso e eu sabia que ele era meu. Sorri.

A cena mudou. Lúcifer e eu estávamos deitados sobre tecidos perto de uma cachoeira, eu repousava minha cabeça em seu peito desnudo, algumas gotas cristalinas pulavam até nossos corpos nus. Eu me sentia observada, parecia ter alguém a espreita. Me encolhi em seu abraço e ele beijou-me. “Não há ninguém aqui, está tudo bem”.

Eu estava agora sentada na relva verde, havia uma maçã mordida em minhas mãos e Lilith estava á meu lado na sombra de uma arvore também comendo e sorrindo. Tinha algo errado. Eu sabia.

Outra cena. Desta vez o jardim não estava convidativo, uma forte tempestade balançava as arvores, eu e um homem éramos levados por anjos para fora do jardim. Lúcifer gritava com as nuvens, falava sobre tentação e crueldade. Falava que ele era o culpado. Miguel veio com sua espada luminosa, descendo dos céus como um redemoinho em fúria. Um trovão o acompanhou e então Lúcifer gritou investindo contra ele. Um raio cortou o céu cegando tudo com sua luz forte.

Pisquei muitas vezes até conseguir focar minha visão. Lúcifer me segurava pelos ombros, mas afastou-se de mim assim que viu minha expressão.

-Foi sua culpa. Agora eu me lembro... Lembro de tudo, Lúcifer. –Olhei-o fria. Agora eu sabia quem eu era.
-Eva... Você não entende...
-Foi você! –Concentrei o máximo de poder que pude e enviei para ele que recebeu, mas não revidou. Rapidamente os demônios encheram a sala observando-nos. Olhei-os.
-Não ataquem. –Lúcifer ordenou. –Tem que me escutar, Eva.
-Já o escutei por tempo demais.

Vi Lilith com seu sorriso irreverente, Loki atento, Marduk parecendo confuso, e outros demônios dos quais não sabia o nome, expressões entre medo, raiva e êxtase toldavam seus rostos de brilhantes olhos vermelhos. Olhei para o anjo caído uma última vez e então parti. Deixei o inferno e as lembranças humanas para trás. Eu era Eva e eu iria lutar por aquilo que me foi tomado.


Sua traição custou minha vida. 
Agora vou cobrar-lhe muito mais do que pode pagar.

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