sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A nova Historia de Colombina e Pierrô

Ela era uma colombina que vivia na corte, fora adotada por um rico senhor, criada em um luxuoso palácio com todas as regalias da nobreza, alguns poderiam dizer que nada faltava em sua vida, mas a noite quando sentava-se na janela o vento noturno lhe secava as lagrimas. Escrava de sua própria condição, a pobre rica colombina não sabia viver. As luzes de Paris pareciam chamá-la a desvendar seus mistérios, mas como poderia ela enfrentar a cidade se não tinha nem coragem de se mirar no espelho. Escondia ela um segredo jamais revelado.

Doce, pobre Pierrô, era das ruas um trovador, muito humilhado e magoado pela vida, a fé nas pessoas perdera. Era apenas um ladrão que fingia sorrisos muito bem, enquanto cantava para encantar, seus pequenos ajudantes invadiam os bolsos dos passantes a fim de roubar.

Noite clara e fria, a colombina saira para passear, nas águas do Sena derramava suas lagrimas, já pensando em nelas se afogar, o Pierro, coitado, dormia debaixo da ponte, acordado por seus soluços fora. Iria reclamar, mas ao ver os olhos marejados de tão bela moça, apenas pôde cantar:

“Bela moça posta a chorar

Diga-me motivo de tal amargura que já nem posso suportar

À noite acordo com teu pranto

“Não mais volto a adormecer, visto tão próximo de tal encanto.”



Eis que para a surpresa do trovador ela responde cantando.



“Pobre Pierro desculpe por lhe acordar

Já nem sei o que dizer

Se apenas consigo chorar

“Sou colombina do palácio, de mim já deves ter ouvido em cantigas de maldizer.”



Ele sorrindo retrucou, tentanto apaziguar sua dor.



“Como podem criticar moça de tão rara beleza?

Tolos são todos os que dizem que não eis digna de realeza.

Sou das ruas um trovador

Não mereço tal simpatia, mas se possível poderias conceder-me um favor?”



-O que posso eu fazer por tal honorável senhor? –Respondeu a Colombina secando as lagrimas.

-Gostarias de ouvir uma de minhas canções, quem sabe, apenas talvez pudesse apagar essas tristes lagrimas que não combinam com tão adorável feição. –Respondeu ele já com sua lira a mão.

-Agradeço os elogios e adoraria ouvir tal canção.

-Fala sobre desastrado homem e adorável donzela. Um conto de amor nas ruas de Paris...



“Um burro, um conde, um carro

Um carro, um conde, um asno

E doce donzela perdida em meio à confusão

O burro que empaca na estrada, o carro que para ligeiro, o conde de cara no chão."



A colombina movida pelo jeito folgado do Pierro e suas mímicas irreverente solta uma abafada risadinha, ele sorri e continua, agora mudando um pouco o ritmo dos versos.



“Conde tolo prometeu-lhe o mundo

Mas não tinha controle nem de seu próprio alazão

Donzela triste, desiludida

Parou nas mãos de um fanfarrão.”



A colombina agora ria abertamente e decidiu participar da brincadeira com alguns versos simples.

“Ele é o pateta palhaço que segura meu mundo no lugar

Que me coroa rainha só para não me ver chorar

Sei que se eu pedisse o mundo, me daria

E as mais belas historias ele me contaria.”



O Pierro não escondeu sua felicidade na mudança do dialogo e respondeu:


“Se pudesse dar-lhe o mundo de certo este lhe pertenceria

Se meus versos abrandassem tua dor, todos lhe entregaria.

Doce, triste colombina qual motivo de teu choro?

Teus soluços e lagrimas em conjunto formam um triste coro”



E ela responde, mas em prosa clara e crua ao som das ultimas badaladas da meia noite.

-Já passa de meia noite, essa resposta não poderei lhe dar. Doce, pobre Pierro. Espero ansiosa pela próxima vez que me possa com seus versos saldar.

-Espero que não demore. Triste, bela colombina. Aguardarei na próxima noite, minha canção de certo lhe surpreenderá. –Ela sorriu e partiu pelas ruas escuras.

Por varias noites o Pierro lhe contou historias, a fez sorrir e esquecer dos problemas, mas eis que as coisas mudam e naquela noite os versos foram singelos e doces, escritos especialmente para uma certa colombina com olhos de esmeralda.



“Deixe-me arrancar meu coração para acalentar assim o teu.

Permita que um simples mortal acabe com teu sofrer: Eu

Sou de Paris um trovador, talvez nada saiba da dor

Mas por moça de tão encantadora beleza posso alguns pequenos versos compor.


Doces esmeraldas afogadas em pranto são teus olhos

Colombina que habita meus sonhos

Dá-me o segredo de tal encanto

Destes teus olhos banhados em pranto


Conte-me onde encontrar-lhe

E eu te ensino a amar-me”

Ela surpreendeu-se com a declaração inesperada, mas bem vinda e respondeu-lhe cantando:


“Ele é meu pateta palhaço, com quem viajo o mundo inteiro sem sair do lugar.

Com seus versos me encanta, tem o poder de me fazer sonhar

Ele é de Paris um trovador e eu da corte a triste colombina

Mundos tão diferentes, mas que ele une em rima


Nossos nomes em conjunto e uma historia ele constrói

Meu mundo desmorona e com seus versos ele o reconstrói.

Queria ter o poder de rimar e assim escapar deste horror

Ensine-me a amar doce Pierro.”



Dois tambores tocaram em uníssono as margens do Sena naquela noite, as luzes de Paris acendiam-se apenas para eles, os dois amantes tão distintos. O mundo ele lhe deu em um beijo, com versos a fez sonhar. A chama ascendeu-se em seu interior e a doce colombina voltou a dançar, redescobriu o valor da vida e aprendeu a amar.

Porem tudo o que é bom dura pouco, o romance de alguns meses teve de acabar. A colombina estava para se casar, por ordem de seu pai o conde ela deveria deixar a França e casar-se na Itália com um diabólico Arlequim, que sempre quis seu coração conquistar. Com todas as forças ela negou, mas o segredo ele sabia e ameaçou contar. Seria o fim se todos soubessem, um escândalo com certeza. Foi assim que a colombina aceitou se casar. E agora na Itália, chorava observando a noite da janela e lembrando de seu amado Pierro deixava a última lagrima escapar.

Pobre triste Pierro, das ruas continuou trovador, agora não roubava mais. Sua mente triste e distorcida o fez durante o dia um sofredor e a noite um estripador. Buscando em cada donzela de verde olhar sua amada colombina, que nunca voltará, morrera, coitada, semanas apos se casar.

Um comentário:

  1. T.T
    Tadinhos!
    Por que o destino é tão mal?T.T
    Nos faz enamorar por pessoas, que nunca poderemos ter no final.

    (ok, Elza.Menos!¬.¬)

    Muito triste, mas lindo.
    Pobres criaturas!T.T

    Nota mental: Nunca mais andar de lentes verdes á noite!

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